Em 01 de agosto deste ano, o antigo ministro do Comércio dos EUA, Ron Brown, ex-membro da equipe de Bill Clinton, teria completado 72 anos. Mas ele não conseguiu viver até essa data. Em 03 de abril de 1996, Ron Brown morreu vítima de um acidente aéreo nas proximidades de Dubrovnik, Croácia.
No dia seguinte, estive no local do desastre e depois visitei Dubrovnik mais de uma vez. Os colegas do jornal russo Izvestiya, ao lerem minhas reportagens, pediram para esclarecer as causas da morte trágica de Ron Brown e de seus companheiros. Hoje, ofereço ao leitor fragmentos do meu “Diário de 1996-2000”, relacionados com os eventos ocorridos em 03 de abril de 1996.
O ministro do Comércio dos EUA e grande amigo de Bill Clinton era aguardado no aeroporto de Сilipi em 03 de abril de 1996 por quase todos os dirigentes croatas. Em Zagreb, capital do país, todos estavam convencidos que, após o fim da guerra na Bósnia em dezembro de 1995, Washington iria doar dezenas de bilhões de dólares. Se depositavam muitas expectativas em Ron Brown e nos homens de negócios influentes, como se fossem deuses.
O velho Boeing-737 partira de Tuzla com destino a Dubrovnik, acompanhado por um avião-radar AWAKS. Quando o Boeing estava a uns quilômetros do destino, pelas 14h52 horas locais, ao iniciar a manobra de aterrissagem à altura de 800 metros, colidiu com um monte e se despenhou às 14h55, tendo ficado sem cauda. O chefe do grupo de resgate, Ivan K., das tropas especiais, (ele foi primeiro a chegar ao local do acidente), contou-me que todos os passageiros e tripulantes ficaram queimados. Somente a aeromoça, Shelly Kelly, com a coluna vertebral partida, dava sinais de vida.
De vez em quando, ela retomava a consciência, pedindo socorro. Ivan K. disse que era possível salvá-la, mas o médico se havia atrasado e chegou ao lugar do acidente só após algumas horas. Por essa altura, a Kelly já estava morta. Ivan K. considera que a única testemunha teria podido ser uma “pedra de tropeço” e fazer muita confusão na investigação do caso, bem como as caixas-pretas, alegadamente encontradas no monte e depois desaparecidas sem deixar rastro.
Mas o que é que realmente aconteceu durante os 45 minutos do voo de Tuzla até Dubrovnik? Uns dizem que a culpa foi dos pilotos, que se guiaram por um mapa errado. Os outros revelaram que o aeródromo tinha um regime de radionavegação obsoleto, razão pela qual a tripulação americana não conseguiu captar o sinal de radar. Os pilotos civis e militares croatas, com os quais falei no assunto, sabem por excelência que o aeroporto de Dubrovnik é um dos mais “caprichosos” nos Bálcãs. Não se recomenda aterrar nele na ausência de instrutor e alguns pousos experimentais. Todavia, em abril de 1996, os aviões da Força Aérea norte-americana ainda se estavam acostumando ao ambiente específico da Bósnia e Croácia.
A TV local foi a primeira a divulgar informações sobre as caixas-pretas. Mas depois se apressou a desmenti-las. No entanto, os controladores aéreos de Dubrovnik acabaram por revelar alguns pormenores do acontecido. Por outro lado, existe um volumoso relatório sobre as causas do acidente dramático, preparado por militares dos EUA e redigido por especialistas croatas.
A verdade é que mistério do Boeing-737 está sendo guardado em profundo sigilo. Nos EUA ninguém pode acessar os documentos que tenham algo a ver com a morte de Ron Brown. Em tempos, ele estava estreitamente ligado ao presidente Bill Clinton após ter financiado, em parte, a sua campanha eleitoral. Foi daí que Ron Brown foi nomeado ministro do Comércio dos EUA. Mas, em finais de 1995, os dois políticos e amigos se zangaram. A Casa Branca sabia que Brown poderia impedir a reeleição de Bill Clinton para o segundo mandato.
Fonte: Voz da Russia
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