sábado, 24 de agosto de 2013

RÚSSIA E POLÔNIA: HÁ COISAS SOBRE AS QUAIS VALE A PENA FALAR



Não é verdade que a história tenha de separar russos e poloneses. Assim dizem aqueles que se opõem à reconciliação e os que querem que sejamos sempre inimigos. Os sistemas totalitários construíram seus impérios com base na hostilidade. Mudavam os inimigos, mas os objetivos da luta não se alteraram: se edificaram sistemas conducentes ao poder absoluto – o totalitarismo. Não importa qual a base em que este tipo de sistemas se alicerçava: em ideologias precárias, filosofias utópicas ou na religião. Há uma única coisa que permaneceu sempre inalterável: para tais sistemas não existia o conceito de individualidade.


Viagem

O meu amigo Leonid Sviridov, jornalista russo conhecido na Polônia, apoiou ardentemente minha viagem ao Norte da Rússia.

Ele convenceu a redação polonesa da Voz da Rússia na Internet a publicar a reportagem - com isto não houve qualquer problema. Mas Leonid simplesmente "empacou" nas conversações com as autoridades de Nyandoma. Eu não duvidava de que as autoridades locais temiam um encontro com um jornalista polonês, tal como os deportados poloneses outrora temiam as deportações para esses locais.

Conseguiu-se estabelecer contato pessoal apenas alguns dias antes de minha chegada a Nyandoma. Leonid pediu ajuda à redação do semanário local, Avangard. Atendeu o telefone a correspondente Anna Guselnikova e a realidade voltou ao curso normal.

Com respeito pelos antepassados

De manhã, ao chegarmos a um hotel mais do que modesto (embora tivesse o padrão de preços da Europa Ocidental), a redatora Anna Guselnikova contatou connosco. Fomos ao encontro no museu local de Nyandoma, que consistia em apenas uma dependência, numa vila de 20 mil habitantes. No local esperavam-nos pessoas e uma mesa cheia de tortas, bebidas e doces.

Anna, a diretora do museu Elena Kusnetsova e a dirigente da biblioteca Galina Ivanova prepararam-nos uma surpresa. Elas convidaram para o encontro seus conhecidos de Nyandoma que têm raízes polonesas. Eles são russos e se sentem como russos, mas lembram que os seus avós vieram da Polônia. Eles vieram para esta região não nos anos 40 do século passado, mas ainda no século XIX. E eles não foram deportados pelo tsar, como se podia pensar. Eles vieram voluntariamente para viver na Rússia e não pensam em emigrar para a Polônia. Nada disso! Mas eles respeitam o país de seus antepassados. O encontro foi alegre e, ao mesmo tempo, comovente.

E nós fomos para Burachikha - o objetivo de nossa viagem.

Pela "criança"

Chegamos lá em 20 minutos. Junto à estação está uma aldeia em que estão registradas oficialmente cerca de 600 pessoas. Na estação foi erigido um monumento aos moradores da aldeia que morreram na Segunda Guerra Mundial. O principal edifício nesta região está a 50 metros da estrada de ferro. Nele se encontra a administração da aldeia, que é dirigida pela sra. Vera Dubenko, e um posto de enfermagem e obstetrícia, onde os pacientes são recebidos pela sra. Lyubov Maklakova. Duas mulheres boas, hospitaleiras e modestas. Via-se que as mulheres se assustaram realmente com esta visita! O que um polonês queria delas 70 anos depois? Iria agradecer pelos anos que seus antepassados passaram ali? É pouco provável. Já que veio um jornalista, o que ele escreveria? Com certeza não seria nada de bom, e por causa dele depois teriam problemas. Via-se que estas questões há dias não deixavam meus anfitriões dormir.

Acho que houve dois momentos que dispuseram os anfitriões a meu favor. Primeiro, quando eu acendi uma vela junto ao monumento em Burachikha. Segundo, quando eu tirei da mesa ricamente posta a garrafa de vodka local e coloquei no lugar dela uma vodka com sabor a mel, que me foi dada antes da viagem à Rússia pelo citado coronel Leon Vagner, que esteve aqui quando criança.

"A vodka na Rússia é sempre útil. Leve esta. Leve-a até Burachikha e beba um cálice com pessoas boas", aconselhou Leon.

Eu contei a nossos anfitriões sobre meu velho amigo, enchi os cálices com a bebida e imediatamente a atmosfera se tornou mais humana. Nós comemos tira-gosto de carne, peixe, tortas notáveis e cogumelos. Em algumas horas nós bebemos 100-150 gramas cada um, isto é, quase nada. Nós bebemos para festejar o encontro, a história comum e a amizade. Fizemos o primeiro e último brinde à saúde da "criança", pois 70 anos depois Leon Vagner se tornou novamente um menino pequeno.

Fonte: Voz da Rússia

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