quarta-feira, 23 de abril de 2014

POR UM FEMINISMO PIADISTA


Ser jovem e feminista é péssimo para ficar com homens. Não vou dizer que esse é o maior desafio porque, em primeiro lugar, nem todas as feministas estão interessadas em homens. Segundo porque estamos mais ocupadas combatendo a cultura machista que justifica a cultura do estupro, que glamouriza a violência contra a mulher na novela das oito, as diferenças salariais e a baixa representatividade na política. Mas vamos falar depegação.

Um dos maiores desafios para jovens feministas (que curtem rapazes) não é poder usar minissaia em um dia de calor sem ser assediada (o que é verdade) ou lidar com argumentos tacanhos que tentam deslegitimar o movimento nos sugerindo lutar pelo alistamento obrigatório (por que alguém lutaria para ser obrigada a fazer algo eu realmente não sei) ou ter de desmentir o fato de que feministas não regulam as posições sexuais das outras pessoas (o que também é verdade), mas sim a falta de rapazes interessantes que simpatizem com a ideia revolucionária de que somos seres humanos e não coisas para “pegar”.

Claro que inteligência, charme, simpatia, ser bem sucedida profissionalmente, ter um mestrado aqui, um doutorado ali, ajudam. Porém os homens hétero cisgênero possuem um ponto indiscutível a seu favor: toda uma cultura que prega a passividade do comportamento feminino nas relações heteroafetivas. Vocês sabem, toda aquela baboseira que ensinaram nos contos de fadas e nas novelas dizendo que a mulher não escolhe, é escolhida. Pra quem é homem, em tese, se aproximar de uma mulher é a coisa mais fácil do mundo. Afinal, um rapaz não é julgado pela sua conduta e nem pelo seu passado sexual. Ele apenas age como foi ensinado. Faz o seu “papel”, conforme um bonitinho cabeça-de-vento me explicou uma vez.

O machismo se reproduziu porque sempre teve histórias da carochinha e colunistas bobagentos à mão, o que torna a vida das jovens feministas que curtem rapazes muito difícil. Imagine os papos: “Vem cá, meu amor, deixa eu te explicar porque tudo o que você acredita está errado, mesmo que eu desconheça sua área de atuação e esteja só dando palpites”. Ou “deixa eu te tratar como idiota porque a minha autoestima e/ou o tamanho do meu pênis não é grande o suficiente”.

Imagine-se recebendo aquele teteio que acabou de voltar do encontro de jovens liberais. Você leva o rapaz na sua casa, abre aquele vinhozinho chileno, para ele ficar à vontade e elogiar o “Pinot”, e começar a tecer elogios à meritocracia, apesar de ter estudado em faculdade pública e ter ido para a aula durante quatro anos com o carro do pai.

Imagine você falando para aquele rapaz que levanta a bandeira do anarcocapitalismo que nunca teve problemas em abrir um pote de azeitonas e ensinando o fofo a tirar o vácuo antes de forçar aquela mãozinha delicada que nunca lavou uma louça. Imagine esse rapaz olhando para você, cansada depois de um dia de trabalho e te dizendo: “Você está tão bonita que, desse jeito, eu estupraria”.

Qual a saída para essas situações quando vivemos em um momento em que o politicamente correto é apontado como a causa dos males do mundo?

Rir, minhas amigas.

Porque, convenhamos, não é difícil. Vamos fazer troça de quem se põe a escrever sobre o que não sabe, que acha divertido tratar mulheres como objetos, vamos rir de quem acha que estar sozinho é culpa do mundo. É culpa sua, querida leitora, que tem opinião própria e ousa escolher com quem quer se relacionar? Eu não sei vocês. Pelo pouco que entendo de relacionamentos, arrogância palpiteira nunca fez muito sucesso, independentemente do quão “cabeça” é o seu papo.

Mas como o objetivo da vida das mulheres – e, principalmente, das mulheres feministas, que são orgulhosamente donas de seus corpos – não é agradar aos homens, apenas dê risada. Dos machistinhas, dos reacionários, dos liberais. E continue beijando na boca só quem você quer beijar, independente do gênero. Beije quem te respeita e te reconhece como um ser humano igual. Pode não estar fácil, mas basta olhar para a direita e saber que tem gente passando muito pior.

Eu sei, esse texto está um pouco diferente dos habituais e eu não sei muito bem o que é papo-cabeça. Em geral escrevo sobre política – e os relacionamentos também são políticos. É que hoje, assim como em todos os dias da minha vida, acordei numa vibe meio feminista. Sorry.

Fhoutine Marie é professora universitária e doutoranda em Ciência Política

Fonte: Carta Capital

Segue o link do Canal no YouTube e o Blog
Gostaria de adicionar uma sugestão, colabore com o NÃO QUESTIONE

Este Blog tem finalidade informativa. Sendo assim, em plena vigência do Estado Democrático de Direito, exercita-se das prerrogativas constantes dos incisos IV e IX, do artigo 5º, da Constituição Federal. Relembrando os referidos textos constitucionais, verifica-se: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato" (inciso IV) e "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença" (inciso IX). As imagens contidas nesse blog foram retiradas da Internet. Caso os autores ou detentores dos direitos das mesmas se sintam lesados, favor entrar em contato.

Nenhum comentário:

Postar um comentário