sexta-feira, 17 de abril de 2015

BRASIL: LAAD 2015 - FAB PODE SEGUIR EXEMPLO SUECO E DEIXAR DE LADO OS JATOS TREINADORES DE CAÇA


Roberto Lopes
Enviado especial ao Rio

No atual quadro de incertezas financeiras, bem poucos entre os principais programas de reaparelhamento das Forças Armadas mantém seu cronograma original, ou ainda perseguem marcos contratuais de forma a poder remunerar adequadamente – e a tempo – os seus prestadores de serviços.

Mas essa situação de prazos indefinidos, voláteis, acarreta um outro subproduto indesejável para o brasileiro (ou o estrangeiro) que trabalha com o reequipamento: projetos que ainda não saíram do papel correm o risco de jamais se viabilizarem, ou – na melhor das hipóteses – de serem substituídos por outros, de custo e eficiência muito menores.

É o que acontece, hoje, no assunto da aquisição supostamente prioritária de um jato de treinamento avançado para os pilotos de combate da Força Aérea Brasileira (FAB).

No fim dos anos de 1990, a ideia original era, como se sabe, a de proporcionar aos jovens aviadores um aparelho a reação – subsônico –, capaz de facilitar a ambientação deles emcockpits digitais semelhantes aos dos modernos caças.

Nessa fase de conversão, os oficiais-alunos poderiam se acostumar a ler as informações produzidas pelos sensores da aeronave nas telas de cristal líquido de modernos head up displays. E também se adestrar na operação de sistemas de armas, mediante a recomendação de equipamentos que integram a sensibilidade dos radares à eficácia de softwares aptos a selecionar a arma que representa a melhor resposta a uma determinada ameaça.

Biplace - Durante a década de 1970, os cadetes da FAB cumpriam a fase final de sua instrução de voo na Academia da Força Aérea (AFA) em jatos Cessna T-37C, de fabricação americana (cuja função foi assumida na década seguinte pelo turboélice Embraer T-27 Tucano).

Em seguida os candidatos a caçador voavam o jato AT-26 Xavante, de projeto italiano, fabricado sob licença pela Embraer. Concluindo exitosamente os cursos de ala operacional e de líder de esquadrilha, esses aviadores cumpriam, por fim, a etapa de conversão operacional nos esquadrões de primeira linha, voando as versões de dois lugares dos jatos Mirage e F-5.


M-346 em uma bela imagem produzida pela Alenia Aermacchi



A indústria aeronáutica da Itália manteve seu investimento nesse nicho de produção, e, agora, está de novo empenhada em vender no Brasil o treinador Alenia Aermacchi M-346 – solução que julga adequada às necessidades do Comando da Aeronáutica.

A empresa italiana chegou a transferir um funcionário para o Brasil, na esperança de vender cerca de 20 desses jatos à FAB.

Nesse segmento a indústria aeronáutica da Rússia oferece aos brigadeiros o Yak-130, de préstimos muito parecidos com os da aeronave italiana (os dois nasceram de um mesmo projeto ítalo-russo), e companhias da China e da República Checa ofertam aeronaves de capacidades ligeiramente inferiores às das máquinas italiana e russa.

A questão é que, dentro de um governo que vive fazendo contas – ou em suspenso por causa da tesoura do Ministério da Fazenda –, outras teses acabam aparecendo. E, aos poucos, ganham força.

Esta semana o Poder Aéreo apurou que, nos bastidores da LAAD 2015 – principal mostra de armamentos brasileira –, circulou com certa insistência o rumor de que, diante das atuais restrições orçamentárias, a cúpula da FAB pode, perfeitamente, se deixar atrair pelo exemplo da Força Aérea sueca, que dispensa a preparação de seus pilotos de combate em um aparelho dedicado ao métier da guerra aérea.

Na Suécia tal requerimento é preenchido, desde cedo, por estágios de adestramento a bordo do modelo biplace do próprio Gripen.

Os jovens oficiais suecos são introduzidos na pilotagem de um jato a bordo do SK60, um treinador básico que já está no final da vida útil, e depois aprendem a operar um moderno avião de combate voando a versão de instrução do Gripen.

A ideia de ter aviadores brasileiros passando, eventualmente, de um turboélice de alta performance como o A-29 Tucano para um Gripen não deve atemorizar. Na Suíça, por exemplo, os pilotos que optam pela aviação de caça são transferidos do conhecido monomotor Pilatus PC-21 suíço para o caça-bombardeiro F/A-18 Hornet, de fabricação americana.

De qualquer forma, é bom não esquecer que a aquisição de 36 aeronaves Gripen NG, definida pela administração Dilma Roussef na segunda semana de dezembro de 2013, prevê que a FAB receba oito aeronaves de dois assentos – e que nada (a não ser o custo) impede que este número seja ampliado.


Dois treinadores K-8 Karakorum da aviação militar boliviana em decolagem simultânea

Ofensiva - O assunto, claro, divide opiniões.

Caso opte por fazer o adestramento dos seus pilotos diretamente do Gripen, a aviação militar brasileira estará se afastando de várias forças aéreas do Hemisfério Norte que mantém, em seus esquadrões, jatos dedicados ao adestramento avançado. E também de instituições sul-americanas que não dispensam esse tipo de avião, como Chile (CASA C-101 Aviojet), Venezuela (Hongdu K-8W Karakorum), Bolívia (Hongdu K-8 Karakorum) e Peru (MB-339).

Até mesmo a combalida Força Aérea Argentina insiste na fabricação dos seus jatos Pampa de emprego dual – treinamento avançado e ataque ao solo –, um projeto derivado dos venerandos Alpha Jets, de design franco-alemão.

Nesse momento, representantes da Alenia Aermacchi sediados na costa sul-americana do Pacífico oferecem os jatos M-346 às forças aéreas do Chile, do Peru e da Colômbia.

No Brasil a empresa italiana com certeza reagirá fortemente, sustentando que o investimento de Brasília no Gripen não significa que os aviadores brasileiros possam atalhar a sua formação profissional, passando do Super Tucano diretamente para a nacele de um Gripen, mesmo que seja a de um modelo biplace.

A tese é válida. Pena que, no caso do Brasil, ela vá exigir mais de 600 milhões de dólares – verba de que, hoje, o governo federal não dispõe nem mesmo para bancar os custos de desenvolvimento do jato cargueiro Embraer KC-390 correspondentes ao ano de 2014…

Pantsir - Os russos também não estão parados.

E tentam até matar dois coelhos com uma só paulada: eles fizeram chegar ao Ministério da Defesa a possibilidade de a indústria aeronáutica brasileira participar da construção do treinador Yak-130, caso o Exército brasileiro feche negócio em torno da aquisição de um punhado de baterias antiaéreas russas Pantsir.


Treinador Yak-130, da aviação russa

Cada fabricante terá, enfim, os seus argumentos.

Infelizmente para esses fornecedores, o comprador tem, nesse momento, bem pouca voz – e quase nenhuma vez.

Voz mesmo quem tem é a chamada “Junta Orçamentária”, formada pelos representantes do Ministério da Fazenda, do Ministério do Planejamento e da Casa Civil da Presidência da República.

É ela que definirá os contingenciamentos por meio dos quais a área econômica do governo apresentará, a uma nação ansiosa, o tal ajuste fiscal. Em resumo: é ela quem manda. Ninguém mais.

Fonte: Aero

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